quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Haptonomia e afectividade no acolhimento

Em O Médico do Futuro, para uma nova lógica médica (colecção Medicina e Saúde, edição do Instituto Piaget), Jean-Paul Gaillard faz uma reflexão sobre a prática clínica médica, nas suas diferentes etapas, da consulta à relação terapêutica, apresentando-nos os fundamentos básicos para uma saudável relação médico-doente. O autor dá especial atenção aos aspectos da comunicação, verbal e não-verbal.

No capítulo dedicado à consulta médica, mais precisamente ao “Estabelecimento do contacto” (pgs. 184-186), podemos ler:

A saudação tem por efeito autorizar o seu doente a ser ele próprio à sua frente: é para si o meio pelo qual lhe transmite o sinal que exprime que você está disposto ou não a aceitar ser atravessado pelas duas linhas transferenciais, sem com isso mergulhar nas armadilhas relacionais que ele não deixará de lhe montar nessa relação que ambos inauguram em conjunto… Sinal que também significa para ele que você está disposto (ou não) a acolhê-lo na sua totalidade e não apenas ao seu sintoma.”

Este parágrafo é antecedido, no livro, de uma curta menção à Haptonomia, a disciplina do toque e da afectividade. Esta “ciência humana”, desenvolvida há mais de cinquenta anos por Franz Veldman, médico holandês, é praticada legalmente em países como a Holanda, com reconhecida utilidade. Definida como a "ciência" das interacções e das relações afectivas humanas, a haptonomia, serve-se do contacto psico-táctil para ajudar diferentes áreas médicas: do acompanhamento pré e pós natal de pais e filho ao alívio do sofrimento do doente moribundo e sua família, passando pela haptopsicoterapia aplicada à patologia psicológica.

Apesar de não ser oficialmente reconhecida como área médica, note-se que, logo no primeiro ano de faculdade, é oferecida aos estudantes de medicina de algumas faculdades holandesas a oportunidade de contactar com esta disciplina.

E que ensinamentos para um estudante de medicina? Segundo Jean-Paul Gaillard, “trata-se apenas de presença no olhar e de sinceridade no gesto; presença de um calor que sabe medir a distância adequada (nem excessivamente próximo, nem excessivamente distante), sinceridade que sabe transmitir a flexibilidade das suas capacidades de prestar cuidados”.

E não pensemos que falamos de, simplesmente, encher as enfermarias de doentes sorridentes! Não! Ser capaz de, tal como diz Gaillard, pôr o doente a falar de si próprio, significa abrir as portas para uma anamnese mais eficaz e verdadeira, significa traçar o caminho para uma maior adesão terapêutica, significa melhor controlo de sintomas.

Concluindo, falamos do acolhimento do doente na sua totalidade – a pessoa do doente! - como forma de iniciar uma relação médico-doente que se exige segura e disponível e que permita a ambos os intervenientes fazerem total uso de todas as suas faculdades intelectuais.

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